Como Diferenciar a Tristeza da Depressão

Dr. Aníbal Diniz – Médico Psiquiatra


As diferenças entre tristeza e depressão situam-se no mesmo campo de dificuldade em distinguir entre o normal e o patológico. Sabe-se que depressão e tristeza são fenômenos distintos; porém, há zonas em que tristezas mais intensas e depressões menos severas se confundem, dificultando a distinção. Além disso, assim como a depressão pode levar à tristeza, tristezas persistentes podem evoluir para depressão.
Dada essa dificuldade, não cabe exclusivamente ao paciente ou à família realizar essa distinção complexa. O médico psiquiatra, em seu papel socialmente estabelecido, pode investigar, analisar e identificar se o caso é um transtorno mental em curso ou apenas uma reação de tristeza a um fato da vida, o que, nesse caso, é um sentimento normal e até necessário.
Alguns chegam a afirmar que a depressão como doença não existe. Tal extremismo impede uma compreensão adequada do assunto, dificultando o apoio a pessoas em sofrimento e ignorando fatos descritos desde os tempos bíblicos e mitológicos, evidenciando que a depressão é tão antiga quanto a própria humanidade. Portanto, não estamos falando de um fenômeno apenas contemporâneo, mas de uma condição de adoecimento claramente discriminada na história da medicina e da literatura.
A depressão, como uma entidade distinta, está em um nível diferente da tristeza, pois se eleva ao nível de uma alteração do humor. Todo sentimento remete a algo específico: estar triste é estar triste por algo, geralmente uma decepção, perda ou ruptura na vida. A tristeza tende a ter início, meio e fim. Já a depressão é um estado emocional negativo, pesado, muitas vezes sem um objeto específico. É estar triste “em si mesmo”; além disso, traz uma sensação de permanência e paralisação, diferente da tristeza.
Nossos vínculos são construídos e mantidos afetivamente, e o humor atua como esse grande regulador. É uma espécie de tônus que nos mantém vivos, dispostos e direcionados para o futuro. Na depressão, como doença do humor, ocorre uma perda do dinamismo da existência: quase todos os aspectos da vida parecem sem saída, e a sensação de que o futuro pode ser melhor que o presente é inexistente.
O humor também regula nossos estados internos. Em pessoas com depressão, são comuns o cansaço, a indisposição e a sensação de vazio, como se a vida perdesse seu sabor. Há perda de apetite (para comida e sexo), lentidão no pensamento, nos gestos, na postura e na fala – todos elementos que costumam estar ausentes na tristeza.
Por fim, a depressão gera uma retração do mundo, um encolhimento do campo de experiência e vivência. Nesse sentido, o isolamento social é um sintoma comum, assim como a indisposição para realizar tarefas. Esses sintomas não decorrem de falta de vontade; na verdade, em um psiquismo adoecido, a vontade como a conhecemos está ausente. A “força de vontade” é resultado de um estado mental minimamente saudável, algo que se busca alcançar com tratamento adequado. Não se pode exigir mais vontade de alguém deprimido, assim como não se espera que uma pessoa com crise asmática se esforce para respirar melhor.
Assim, é possível compreender que a depressão frequentemente leva a um estado vivido “sem amanhã”, do “eu não posso”, “não consigo”. Daí as altas taxas de suicídio, principalmente em pessoas sem acesso a cuidados. Sem acompanhamento, quadros depressivos podem se agravar e evoluir para sintomas mais sérios, culminando na perda de contato com a realidade, com manifestações psicóticas em casos melancólicos mais graves.
Para concluir, a tristeza muitas vezes nos mobiliza, impulsionando transformações e estimulando nossa criatividade para nos reinventarmos em busca de um futuro melhor. A depressão, por outro lado, nos paralisa e nos impede. Distinguir esses quadros é essencial para proporcionar o cuidado adequado a quem está em sofrimento.

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